quinta-feira, 15 de junho de 2017

Exclusivo! Jogadores relembram vice-campeonato do São Caetano na Libertadores de 2002!

Prólogo: Em 2012 fiz uma postagem no São Carlos Agora sobre os 10 anos do vice-campeonato do São Caetano na Libertadores.A publicação teve uma repercussão maior do que tinha imaginado. Lembro de comentários de pessoas da Grande São Paulo me agradecendo pela recordação e que tinha sido um dos poucos jornalistas que havia falado sobre este feito histórico. Um amigo me avisou que em uma página de futebol no finado Orkut havia o assunto sobre o vice-campeonato do Azulão e que a minha postagem estava lá como referência.

Infelizmente,o SCA fez uma reforma no portal e minhas antigas publicações saíram do ar. Nem todas eu tinha salvo no computador. Essa foi uma. Lamentei a perda.

Em 2017 completará 15 anos do quase título do São Caetano no torneio mais importante das Américas. Para escrever sobre o tema fiz algo melhor do que há cinco anos. Fui atrás dos jogadores que estavam naquele Pacaembu no dia 31 de julho. 

Todas as entrevistas foram dadas com exclusividade ao Arquivos e Histórias F.C.

Confira: 
A grande sensação do futebol brasileiro no início dos anos 2000 era o São Caetano. Um time que em 2000 estava na Série A-2 do Campeonato Paulista e dois anos depois era  bi-vice-brasileiro e vice da Libertadores.Foi campeão paulista em 2004.

"Cheguei para a disputa do mata-mata da Libertadores.Vim emprestado pelo Santos que eliminado do Rio-São Paulo e do Paulista iria ficar três meses sem entrar em campo.No pouco tempo que fiquei no São Caetano vi o quão estruturado era o time.A diretoria monitorava todo o interior de São Paulo e contratava muito bem.Monitorava todas as divisões de São Paulo e os destaques de cada time e campeonato. Posição por posição. Pagavam salários altos e em dia. Pagavam 'bichos`.Tinha um sistema de ficar semana sim e semana não hospedado em um hotel-fazenda para concentrar.Isso fazia diferença. O atleta se alimentava melhor, dormia melhor e o grupo ficava mais unido.O preparador físico na época era Flávio Oliveira (atualmente no futebol japonês) e era muito acima da média dos demais", relembrou o ex-meia Robert.

"Quando cheguei no São Caetano vi que eles tinham um acolhimento diferenciado com os jogadores. Um grupo bem unido.Fazia todos se sentirem bem.Dentro de campo, era um time em que todos ajudavam a marcar e todos ajudavam a atacar. Algo raro no Brasil naquele tempo", continuou o atacante Somália.
Pacaembu lotado. São Caetano era o xodó do Brasil

Os brasileiros em geral torciam para o time da Grande São Paulo. Queriam que ganhasse um título de destaque.

Possivelmente o revés na final da Libertadores de 2002 foi o vice-campeonato que mais doeu na alma do torcedor do Azulão.Venceu o Olímpia, no jogo de ida, no Paraguai por 1 a 0 e na volta, no Pacaembu, terminou o primeiro tempo ganhando por 1 a 0. Na segunda etapa levou dois gols em dez minutos, a decisão foi para os pênaltis e os paulistas acabaram derrotados.

Na primeira fase, o São Caetano (único paulista naquela edição de Libertadores)  enfrentou Alianza Lima-PER, Cerro Porteño-PAR e Cobreloa-CHI. Os brasileiros terminaram na liderança com 12 pontos conquistados. 4 vitórias e 2 derrotas (uma para os paraguaios e outra para os chilenos).

No mata-mata o clube fundado em 1989 enfrentou  equipes tradicionais do futebol mundial e surpreendeu.

Nas oitavas de final o rival era a Universidad Católica-CHI. Houve dois empates em 1 a 1 e a A.D.S.C. bateu os chilenos nos pênaltis.

"Lembro o jogo no Chile. Foi dificílimo. O nosso goleiro Silvio Luiz pegou muito.Nunca vi um goleiro pegar tanto como naquele jogo. Equiparo somente ao Fábio Costa (pelo Santos) na final do Brasileiro de 2002 contra o Corinthians. O Silvio Luiz viveu seu auge nessa Libertadores e para mim foi o melhor goleiro daquele torneio", relembrou o ex-meia Robert.

" Fui muito bem mesmo nesse jogo. Estava confiante e vivendo um grande momento na carreira. Tinha vindo de um pré-olímpico com a Seleção Brasileira.Duas finais de Brasileiro.Então estava dando tudo certo. Estávamos nos dedicando nos treinos e a qualidade eu tinha.Vale ressaltar que o time era muito bom. Era um elenco unido e sem vaidade, o que fez com que os resultados aparecessem ", concordou o goleiro Sílvio Luiz.

Nas fase seguinte o adversário era o Peñarol,pentacampeão da Libertadores. Na ida em Montevidéu, os uruguaios venceram por 1 a 0. Na volta, os comandados de Jair Picerni ganharam por 2 a 1. Como naquela ocasião ainda não havia o critério `gol fora de casa` a decisão foi para as penalidades máximas. Novamente, o São Caetano venceu.

Na semifinal o embate era diante do América. O clube mais popular do México. No primeiro confronto, os paulistas ganharam por 2 a 0 e no retorno houve empate em 1 a 1.

" O jogo no México foi um desgaste monstruoso.O América era a base da Seleção do México.Um timaço. Lembro que o juiz estava roubando muito contra a gente. Só apitava a favor do América. Logo no início expulsou um atleta nosso e ficamos o tempo todo jogando com 10. Eu ficava isolado na frente. Corri para lá e pra cá o tempo todo. Seguramos o empate e fomos para a final", continuou Robert, atualmente treinador de futebol. 

A decisão era contra o Olímpia. Até então, a equipe paraguaia era bicampeã da Libertadores, estava em sua sexta final e em 2002 completava 100 anos de existência. No elenco tinha jogadores experientes como o goleiro Ricardo Tavarelli e os meio-campistas Julio Cesar Enciso e Sérgio Orteman.

Como já mencionado nesse texto, os paulistas venceram o primeiro embate por 1 a 0.Gol de Aílton. Ficaram próximos de serem campeões.

"Penso que nesse jogo eu vi de fato que poderíamos ser campeões da Libertadores.Ganhamos o jogo e ficamos empolgados com a possibilidade de título", revelou Somália.

"Tínhamos uma melhor equipe que eles. Em termos físicos e entrosamento. Nesse primeiro jogo fomos muito bem.Taticamente e tecnicamente fomos superiores ao Olímpia.Silvio Luiz fechando o gol! Criamos várias chances. Fizemos 1 a 0 faltando uns 20 minutos para acabar o jogo. O problema é que depois do gol anotado, Jair Picerni recuou o time.Estava satisfeito com o placar. Eu, Anaílson e Aílton fomos substituídos. Todos os atletas que atuam na parte ofensiva. Fechou o time. Poderíamos ter feito mais e saído com um placar mais amplo", contou Robert.

"Por se tratar de uma competição muito difícil, a mentalidade era fazer uma ótima campanha na Libertadores.Mas quando chegamos próximos da final vimos a possibilidade de título. Lembro que o Brasil todo estava torcendo para que fossemos campeões", recordou o arqueiro reserva Luiz.

A finalíssima não pôde acontecer em São Caetano do Sul/SP, pois as condições do estádio não atendiam as exigências da Conmebol e por isso foi no Pacaembu.
Robert, Anaílson, Rubens Cardoso, Aílton e Somália na final contra o Olímpia

A cancha estava lotada. Torcedores dos quatro grandes de São Paulo pagaram ingresso para apoiar e ver o time do ABC ser campeão da Libertadores.

Para o embate na maior cidade da América do Sul Jair Picerni mandou a campo Sílvio Luiz; Russo, Dininho, Daniel e Rubens Cardoso; Marcos Senna, Adãozinho, Aílton e Robert; Anaílson e Somália.

Já os 11 titulares do Olímpia foram Tavarelli; Isasi, Cáceres, Zelaya e Da Silva;Enciso, Quintana,Orteman e Córdoba; Benítez e Baez.

Precisando reverter o marcador adverso, os paraguaios começaram no ataque e nos 30 primeiros minutos tiveram três chances de gols. Uma com Enciso em cobrança de falta, outra com Baez em uma cabeçada e mais uma em uma jogada de Baez e Benítez, onde Orterman da entrada da grande área finalizou muito fraco e a bola ficou nas mãos de Silvio Luiz.

Na sequência, o arqueiro iniciou um contra-ataque e mandou a pelota no outro lado do campo. Em uma disputa pela bola, Aílton roubou de um adversário, partiu para o ataque, tocou para Somália que na entrada da grande área devolveu para Aílton que finalizou e fez 1 a 0. O tento deixou o Azulão mais perto do inédito título.

"Tínhamos começado mal o primeiro tempo. Respeitamos demais o Olímpia e eles tiveram várias chances de abrir o placar.No entanto, marcamos primeiro e isso nos deixou em uma vantagem boa. No intervalo pouco conversamos, pois sabíamos o que deveria ser feito no segundo tempo. Taticamente nosso time tinha uma disciplina invejável",opinou Somália.

"No intervalo deu uma sensação de que o jogo estava ganho. Faltavam apenas 45 minutos para fazer história. Creio que a euforia desfocou o time no segundo tempo",emendou o meia Robert.

Vale ressaltar que Jair Picerni não voltou para a etapa complementar. Ao término do primeiro tempo o comandante acabou expulso por discutir com o juiz Oscar Ruiz.

Bola rolando e o Olímpia novamente colocou pressão no São Caetano. Aos 3 minutos, Córdoba fez 1 a 1. Aos 13 minutos Baez virou o marcador. O jogo estava sob domínio da equipe de Assunción.

"O problema foi que o Jair Picerni ficou com medo de tomar o terceiro gol, preferiu retrancar o time e esperar a decisão por pênaltis. Tirou vários jogadores que atuavam do meio para frente e colocou atletas mais de defesa", opinou Robert, que saiu do jogo para a entrada do zagueiro Serginho.

Anaílson deixou o campo e em seu lugar entrou o zagueiro Marlon. Por fim, Aílton, autor do gol, saiu para a entrada do meio-campista Wagner.

O cotejo acabou 2 a 1 para os visitantes. No agregado houve empate em 2 a 2 e a decisão foi para os pênaltis.

Pelo lado paulista, Adãozinho, Marcos Senna converteram as suas penalidades. Marlon e Serginho, que entraram no decorrer da peleja, desperdiçaram as cobranças. Já os quatro batedores do Olímpia, Enciso, Orterman, Lopez e Caballero balançaram a rede e garantiram o tricampeonato dos paraguaios.

"O vestiário ficou um caos. Era o terceiro vice-campeonato consecutivo. Três finais e três derrotas. Todo mundo chorando. Todo mundo muito triste. Todos indignados. Entre nós dizíamos que esse título não poderia passar. Estávamos todos focados e dedicados na Libertadores. Infelizmente o título não veio", revelou o ex-goleiro Sílvio Luiz.

"Deu uma pane no time. Não conseguimos jogar. No Olímpia tinha o meia Orterman que foi o destaque na segunda etapa.Nos pênaltis deu Olímpia. Ficamos tão frustrados que nem fomos receber a medalha de vice-campeão no estádio (apenas o volante Adãozinho apareceu para receber a premiação) . Foi muito chato e triste.Se vermos toda a campanha do São Caetano eu diria que o vice-campeonato foi injusto. Vencemos vários adversários tradicionais, ganhamos do Olímpia no Paraguai e o primeiro tempo no Pacaembu ganhamos por 1 a 0. Ficou no quase. Uma pena o título não ter vindo", disse o ex-meia Robert.

A pergunta que ficou é: se o jogo fosse no Anacleto Campanella a história seria diferente?

"Depois de perder o título é fácil falar que se fosse no Anacleto a história seria diferente. Foi questão de momento. Perdemos. Não sei se a história seria diferente",opinou Silvio Luiz que atualmente é preparador de goleiros do Audax/RJ na Série B do Carioca.

"Pela pouca capacidade de público no Anacleto não era viável a final ser lá.Não acredito que esse seja o motivo da derrota", falou o goleiro Luiz, que defendeu o clube entre 2002 e 14 e atualmente está no Criciúma/SC.

"Acredito que poderia ser diferente sim. Estávamos acostumados a jogar no Anacleto Campanella. Conhecíamos o Pacaembu, mas não era a mesma coisa que atuar no nosso estádio.  Mas não penso que esse foi o fator principal da nossa derrota. Respeitamos demais o Olimpia no primeiro tempo e parecia que não acreditávamos que poderíamos ser campeões", argumentou o atacante Somália que no Campeonato Mineiro de 2017 defendeu o América de Teófilo Otoni.

"A história poderia ter sido diferente sim, caso o jogo fosse no Anacleto Campanella", finalizou Robert, atual treinador do União ABC/MS.

Caso tivessem sido campeões, o Azulão teria enfrentado o Real Madrid no Mundial de Clubes, que tinha em seu elenco jogadores como Ronaldo Fenômeno,Raúl, Figo, Zidane e Beckham. O clube do ABC paulista seria páreo para os Merengues?

2004: o ano da coroação e da queda de um bom trabalho
2004 foi um `divisor de águas` na história do São Caetano. Finalmente conseguiu um título: o Campeonato Paulista.

Entretanto, no Brasileirão aconteceu o fato mais triste na história do clube: a morte do zagueiro Serginho, no Morumbi, em um duelo contra o São Paulo, no dia 27 de outubro. Aos 15 minutos do segundo tempo em um escanteio para o São Caetano, Serginho teve uma queda brusca na pequena área. Os médicos procuram reanimá-lo, não conseguiram e o levaram para um hospital. Lá foi confirmada a morte do defensor de 30 anos. Parada cardiorrespiratória. Evidentemente isso causou um luto muito grande no São Caetano.

A equipe ainda foi penalizada (pois havia exames que comprovavam que ele tinha problemas no coração) com a perda de 24 pontos no Brasileirão. O clube do ABC paulista brigava pelo título e por pouco não foi rebaixado.

Coincidência ou não, de lá para cá, o Azulão desapareceu do mapa do futebol brasileiro e se tornou uma equipe comum. Em 2017 disputou a Série A-2 do Paulista onde foi campeã e no segundo semestre não jogará nenhum torneio de relevância nacional.

Bônus: O dia que vi o fenômeno São Caetano em campo.
O ano era 2000. Série A-2 do Campeonato Paulista.O Grêmio Sãocarlense brigava por uma vaga nas quartas de final. O rival era o São Caetano no estádio Luisão. Era um domingo ensolarado. Fui com o meu pai e meu avô para esta peleja. O Azulão não tinha ainda a fama que alcançou em todo o Brasil, mas no estado de São Paulo, sua força já era conhecida. Era nítido a diferença técnica dos comandados de Jair Picerni perante seus adversários na Série A-2. Já se sabia da existências de grandes jogadores como Silvio Luiz, Zinho (ex-Sport,Portuguesa, Ponte Preta, Bahia, dentre outros) e Adhemar. No entanto, a grande estrela era o atacante Túlio Maravilha que fez história no Botafogo e atuou na Seleção Brasileira.

O jogo foi parelho e o Sãocarlense segurou o São Caetano por um bom tempo. A grande decepção para o público foi sem dúvida a atuação de Túlio. O centroavante não fazia nada em campo! Ficava parado, com a mão na cintura,perto da grande área esperando a bola chegar aos seus pés. Pouco correu e tocou na bola. Dava aflição ver ele parado em campo o tempo todo.

Lembro que perto dos 40 minutos da etapa final houve uma falta na grande área para o São Caetano cobrar e alguém na arquibancada cornetou: 'Oh, Túlio! Cobra ao menos a falta o vagabundo!".

Muitos riram. Pois era o que estavam pensando sobre o centroavante.

Por fim, o empate estaria de bom tamanho ao Sãocarlense. Mas houve um escanteio aos 45 minutos do segundo tempo, onde Adhemar cobrou e fez um belo gol olímpico! O Azulão venceu por 1 a 0.

Esse mesmo time seria o campeão da Série A-2 do Paulista e seis meses depois vice-campeão brasileiro, perdendo o título em uma decisão polêmica contra o Vasco.

Crédito das fotos: Reprodução 


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